
Mr. Arthur Hugh Miller Thomas nasceu em Edimburgo, Escócia, em 1889. Quando jovem foi repórter em Singapura, um importante entreposto comercial e militar inglês no sudeste asiático. Após a Primeira Guerra, mudou-se para o Sudão, então colônia britânica, a fim de administrar os investimentos da Sudan Plantations Syndicate, presidida por Lord Lovat, homem de reconhecidos serviços prestados à Coroa. O negócio envolvia uma grande extensão de terras irrigadas onde os nativos plantavam algodão e ficavam com 40% da produção. Em 1924, Lovat convida Thomas para uma nova aventura comercial em terras exóticas: o Norte do Paraná.
Herr Oswald Nixdorf nasceu em Stettin, Alemanha, 1902. Graduou-se em engenharia agrônoma em seu país. Antes de vir para o Brasil, Nixdorf viveu em Sumatra, na época controlada por holandeses. O convite partiu de Erich Koch-Weser, deputado, ministro do Interior do governo alemão e presidente da Sociedade de Estudos Econômicos do Ultramar, uma empresa de colonização que se tornou parceira da Paraná Plantations do Lord inglês. Oswald Nixdorf chega a Londrina em 1932, com a incumbência de fazer os preparativos para a chegada dos primeiros colonos alemães na gleba onde hoje é Rolândia.
Esses homens típicos da Era dos Impérios se encontraram, aqui, buscando fazer a vida longe de casa. Com o início da II Guerra em 1939, eles foram colocados em lados opostos. No livro Fugindo da Morte, o sociólogo Hermann Oberdiek retoma o conflito que Mister Thomas e Herr Nixdorf viveram muito longe dos fronts de batalha.
Em 1939, o Sr. Arthur Thomas , diretor da CTNP, denunciou o Sr. Oswald Nixdorf, em Curitiba, como nazista, e por estar envolvido na organização do nazismo em Rolândia. O Sr. Nixdorf foi preso, enviado a Curitiba, e seus bens confiscados. Não entro no mérito se era ou não nazista. Difundiram essa fama, e por ter sido contratado pela Sociedade de Estudos Econômicos do Ultramar e pela CTNP para organizar a imigração alemã no Norte do Paraná, evidentemente esta fama repercutiu negativamente na possível vinda de mais judeus-alemães. Este fato era prejudicial para a CTNP. Por outro lado, em suas memórias, o Sr. Nixdorf nega que tenha sido nazista e afirma que o Sr. Arthur Thomas o denunciou para não lhe pagar o que devia. O contrato do Sr. Nixdorf com a Sociedade de Estudos Econômicos do Ultramar, nos itens 4 e 5 dizia que: “a CTNP concederá privilégios ao Sr. Nixdorf.”
Nesse embate, Herr Oswald Nixdorf levou a pior, foi preso em Curitiba por seis meses ou um ano, as datas são imprecisas. Suas terras foram expropriadas. O processo judicial para reaver a sua fazenda em Rolândia durou uma década até que a sentença final fosse anunciada. E sua fama de nazista?
Bem, isso merece um outro post...
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Arthur Thomas não queria que a colônia se ligasse ao restante do Paraná
Arthur Thomas se sentiu ameaçado pelo desenvolvimento de Paranavaí (Foto: Reprodução)
Em 1939, quando o interventor federal Manoel Ribas mandou o capitão Telmo Ribeiro abrir uma estrada ligando a Fazenda Velha Brasileira, atual Paranavaí, ao restante do Paraná, o dirigente da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), o inglês Arthur Huge Miller Thomas, que estava colonizando as regiões de Maringá e Londrina, se sentiu ameaçado e tentou interferir.
A iniciativa do governo em abrir uma nova via que daria a Velha Brasileira acesso a outras cidades do Paraná visava diminuir a influência paulista, pois até então a única estrada que chegava até a colônia começava em Presidente Prudente, no Oeste Paulista. Porém, quando soube da ordem de Manoel Ribas, o colonizador inglês Arthur Thomas viajou para Curitiba para tentar convencer o interventor a mudar de ideia.
Lá, o inglês defendeu que a Brasileira prejudicaria os negócios da CTNP, pois como colonizador fez altos investimentos em infra-estrutura na região de Londrina e Maringá. Por isso, a companhia comercializava terras a preços elevados. Segundo Thomas, a ampliação de uma estrada até Paranavaí, onde o Governo do Estado vendia terras a preços baixos, isso quando não doava, atrapalharia muito o desenvolvimento do Norte Pioneiro Paranaense e também de parte do Norte Novo.
Terras da CTNP eram mais caras que as do governo (Foto: Reprodução).
O que também justificava o receio de Arthur Miller Thomas é que enquanto a CTNP vendia terras somente para quem pagasse em dinheiro, o Governo do Estado aceitava trocas e outras negociações na Velha Brasileira. Tudo era permitido para atrair novos moradores. O grande medo do inglês era que as campanhas de vendas de terras na Fazenda Velha atraíssem também quem fixou residência nas regiões de Londrina e Maringá.
“Mister Thomas não queria a abertura da estrada por Maringá, mas o finado Manoel Ribas mandou abrir”, ratificou o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles, considerado o primeiro cidadão de Paranavaí, em entrevista ao jornalista Saul Bogoni há algumas décadas. Apesar das investidas, a justificativa não foi aceita pelo interventor interessado em expandir as relações comerciais entre Paraná e Mato Grosso, principalmente por causa da pecuária.
Em 1939, o capitão Telmo Ribeiro, responsável por coordenar a abertura de picadões na região de Paranavaí, reuniu centenas de homens para abrir a Estrada Boiadeira, via que levaria milhares de migrantes e imigrantes à Brasileira. O pioneiro e ex-prefeito de Paranavaí, Ulisses Faria Bandeira, afirmou em entrevista ao jornalista Saul Bogoni décadas atrás que estava claro o interesse da Companhia de Terras Norte do Paraná em inviabilizar o crescimento de Paranavaí.
Quem foi Arthur Thomas
O financista escocês Simon Joseph Fraser, o 14º Lord Lovat, que lutou na Segunda Guerra dos Boers, na África do Sul (1899-1902), veio para o Brasil em 1924, na Missão Montagu, interessado em conhecer de perto a produção nacional de algodão e também negociar terras e estradas de ferro em Cambará, no Norte Pioneiro Paranaense. À época, o engenheiro Gastão de Mesquita Filho contou ao Lord Lovat sobre as extensas áreas de mata virgem que o governo disponibilizou para colonização naquela região.
O escocês Lord Lovat enviou Thomas ao Norte do Paraná (Foto: Reprodução) O financista, que era diretor da Sudan Plantations Syndicate, empresa sediada no Sudão e que era a principal fornecedora de algodão para a indústria têxtil britânica, gostou da ideia e retornou a Londres um ano depois, onde abriu a empresa Parana Plantations Limited. Em seguida, enviou para o Brasil o seu maior colaborador, o londrino Arthur Huge Miller Thomas que fundaria em 1925 a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), sociedade anônima controlada pela Parana Plantations.
Em 1929, Thomas, em parceria com o contador paulista George Craig Smith, de origem inglesa, iniciou o povoamento do Norte do Paraná. Durante a colonização, os ingleses chamaram a atenção de migrantes e imigrantes destacando a qualidade da terra paranaense. Arthur Thomas pediu que ressaltassem em todas as campanhas publicitárias que as terras do Norte Paranaense eram roxas e sem formigas saúva.
Em 1943, o governo inglês exigiu que as empresas centralizassem os investimentos na Inglaterra. Thomas então vendeu a companhia para as famílias Vidigal e Mesquita. Da negociação, nasceu a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), ex-CTNP, que continuou sob comando de Arthur Miller até 1948, quando o inglês se aposentou. Thomas viveu em uma fazenda nas imediações de Londrina até 1960, quando faleceu em decorrência de um câncer.
Curiosidades: A CTNP,
embora tenha tentado impedir o progresso da Fazenda Velha Brasileira, comprou
muitas terras na região de Paranavaí e ajudou a colonizar inúmeros municípios
que hoje fazem parte da Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense
(Amunpar) que tem Paranavaí como pólo.
Até a Segunda Guerra Mundial, Mandaguari tinha o nome de Lovat, em homenagem ao financista escocês Simon Joseph Fraser, o 14º Lord Lovat, que colonizou a região de Maringá. No entanto, o nome teve de ser modificado porque muita gente pensou que Lovat fosse uma colônia germânica, levantando suspeitas sobre o lugar servir de abrigo para refugiados nazistas. O mesmo ocorreu com muitas outras cidades e colônias que receberam nomes estrangeiros.
Mito ou verdade? Especula-se que Paranavaí foi a primeira cidade do Norte do Paraná a ser colonizada, pois em 1904, muito antes do Norte Pioneiro Paranaense receber os primeiros colonizadores, viajantes que partiam de São Paulo encontraram fazendas com plantações de café no pré-Distrito de Montoya. Oficialmente, o primeiro registro da colônia que se tornaria Paranavaí data de 1917 e versa sobre uma concessão de terras.
Jose Pinto Moreira
15 de abril de 2014 às 1:44