segunda-feira, 23 de junho de 2014

O boom do norte do Paraná

O boom do norte do Paraná

Em dezembro de 1923 o vapor Araguaya, da  Mala Real Inglesa desembarcou no Rio de Janeiro, a comissão inglesa Montagu, composta por banqueiros e financistas do governo inglês, incumbida de conferir as condições econômico-financeiras do país para atender à solicitação de um  empréstimo de 25 milhões de libras, feito pelo governo brasileiro de Arthur Bermardes à Casa Rothschild & Sons (o Fundo Monetário Internacional – FMT, da época).Acompanhava a comissão o aristocrata escocês, Simon Joseph Fraser, 15° Lorde Lovat, conhecido como especialista em agricultura e diretor técnico da Sudan Plantation Syndicate. Mas Lovat, era conhecido também por seu comportamento  singular, dado a realizar safaris na África, excursões em terras inóspitas, integrou o exército inglês e participou da guerra dos Böers, além  de possuir uma rara coleção de pássaros exóticos. No primeiro dia a comissão fez contato com presidente, e depois disto, Lorde Lovat se desvencilhou do grupo e tomou o rumo do sul, à procura de investimentos em terras e madeira, para compensar o declínio da produção do algodão no Sudão. Foi então que, por mãos do engenheiro Gastão de Mesquita Filho, esteve na propriedade do major Barbosa Ferraz, na Fazenda “Três Bocas”, no patrimônio Cambará,  que correspondia a 5.000 alqueires e 1 milhão de pés de café.  Encantou-se com a fertilidade da terra sem saúva e a organização da propriedade. Imaginou comprá-la, para seu projeto algodoeiro. Depois, após o jantar, quando todos se encontravam reunidos em torno da mesa de bilhar, entre eles o prefeito de Jacarezinho Willie Davids, Leovigildo Barbosa Ferraz, Antonio e, Gabriel Ribeiro dos Santos, além de  Manoel Silveira Correia, o engenheiro Gastão de Mesquita Filho, fez desdobrar o mapa da fazenda, à luz mortiça de lampiões de acetileno, ocasião em que, à vista de todos, Lord Lovat  se adiantou e deu seu lance de comprador:  dava 15 ml contos de reis pela propriedade . Um surpreendente valor para a época. Para José Joffly equivalia então 3 vezes o capital d Banco do Rio de Janeiro. À vista da época, uma  proposta dessas se  mostra inimaginária, – hoje negada, não só pela alta soma que representava, como porquê se mostrava desproporção entre valores vigentes ao tempo. Esse valor, pelo que se diz, nunca teria passado de uma abstração. Uma lenda desfeita pelo bom senso, pelo juízo comum, mas, se levarmos mais adiante nossa imaginação, certamente nos deteremos diante da pergunta insólita: o valor alto do lance não corresponderia a um insightde Lorde Lovatantecipatório da imensa  riqueza que a colonização da terra poderia proporcionar ao investidor? Provavelmente  ninguém teria essa visão, a esse tempo, mas Lovat, era homem ainda vigoroso e façanhudo, marcado por tantas iniciativas de arrojo, e, não fosse assim, afinal de contas,  quanto vale realmente um sonho?… Frustrado com a recusa, Lord Lovat ainda visitou áreas em São Paulo e Paraná, persistindo no objetivo de plantar algodão.  Ouviu outros conselhos. Adquiriu  fazendas em São Paulo (Guatambu, em Birigui; Caiuá e Santa Emília, em Salto Grande), além de uma indústria beneficiadora de fibras, em  Bernardino de Campos, insistindo no projeto do algodão, quando chegou até a erradicar pés de café. Não alcançou a finalidade que pretendia e então voltou a Londres, onde em 24 de setembro de 1924 foi fundada a Brazil Plantations  Syndicate Limited, com objetivo de explorar a agricultura em terras brasileiiras. Como o algodão não alcançou o sucesso esperado, a companhia dividiu o capital em duas empresas: a Paraná Plantation, dedicada ao ramo imobiliário e a Companhia de Terras Norte do Paraná, executora dos projetos da matriz.  Foi assim  que começou a história da colonização e a ocupação do norte do Paraná,  por umas das  maiores  empresas de capital privado instalada no pais. Nos primeiros anos (1925-1927), a CTNP comprou 515.17 alqueires das terras fertilíssimas, equivalentes a 1.200 milhão de km2, adquiridas do governo, de particulares  e até de concessionários anteriores. Posteriormente chegou a completar 544.017. Investiu em ferrovias adquirindo a São Paulo-Paraná, destinada a desempenhar papel central no processo do desenvolvimento econômico regional, embora tivesse de aguardar  a transposição do Tibagi., que só ocorreu em 1934. Fundou 62 cidades, um porção delas de grande porte (Londrina, Maringá, Umuarama, Paranavaí, Arapongas, Apucarana), vendeu mais de 40 mil lotes rurais e 70 mil lotes urbanos, abriu 5.000 km de estradas vicinais. Promoveu  uma colonização racional, planejada, baseada  na pequena e média propriedade. Na verdade, foi o empreendimento colonizador de maior sucesso em nosso país. Mudou toda a geografia do café do Brasil e instalou as bases do mais denso celeiro alimentar do Brasil. No período 1940-1970 a população do estado saltou de 1.2 milhões para 6,9 milhões, incluindo as mais diversas nacionalidades e registrando o mais alto índice l  de crescimento nacional. Lorde Lovat esteve intensamente à frente do empreendimento de 1925 a 1932, embora ainda cumprisse encargos do governo inglês. Morreu em 1933, de colapso cardíaco.

Diz, João Sampaio, sócio e diretor, que apesar de sua ausência, seus executivos souberam manter o mesmo “espírito de Lovat”, o que  não impediu que a empresa sofressse, a  tentativa de nacionalização, e, após, a de desapropriação, durante o governo Vargas e ,além disso,, durante a II guerra,fosse sua venda determinada pelo governo inglês a um grupo nacional (CMNP), para acudir às despesas de guerra. Para Percival Farquhar o dinheiro da venda deu apenas para uma hora de guerra, enquanto para Arthur Tomaz, seu diretor, foi consumido em apenas sete segundo de combate.
Rui Cavallin Pinto

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